quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Niomar por Lucio Costa

Só mesmo a Niomar
Quando a Niomar, ao assumir a direção do Museu, deliberou fazer dele a obra de sua vida, o êxito do empreendimento cuja primeira fase se inaugura, estava, ipso-fato, garantido.
Arrimada na sua fé e no Correio, investiu, destemida, numa benemérita campanha de “extorsão”. Não bastava, porém, saber como, ou quando e onde extorquir, impunha-se garantir a continuidade do processo para que a obra a realizar correspondesse por seu vulto e alcance ao tamanho desmedido da sua ambição. E foi ai que, fosse embora profana a causa, ela revelou possuir o zelo incansável, a tenacidade e a candura de um antigo missionário.
Mas a pureza de sua paixão empreendedora não exclui a esperteza. Precavida, soube atrair habilmente a sorte para o seu lado, a começar com a escolha do arquiteto, bem como dos demais colaboradores cuja dedicação é posta seguidamente à prova. Aliás, as próprias “vítimas” da campanha financeira, tocadas pela magia, acabam igualmente acumpliciadas na empresa.
Isto mostra como o fator pessoal – embora certo determinismo comande o sentido geral da existência – é decisivo no destino final das coisas.
Porém sendo eu, por índole, a negação do empreendedor (se as coisas dependessem unicamente de mim ainda estaríamos à espera do Messias) vejo a obra tomar pé e crescer de encontro à paisagem carioca com apreensiva admiração, – tal como encaro a própria vida.
 L.
24/I/58


Nota do Blog.: Documento V.C.01-02306 da Casa do Acervo Lucio Costa

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